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30/04/2024

Economia Circular: o que você faz com as lâmpadas queimadas?

Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular
 
Você sabe o que fazer com as lâmpadas fluorescentes quando elas queimam e você precisa descartá-las? O questionamento é necessário quando sabemos que esse produto contém mercúrio - um dos elementos químicos mais perigosos para a saúde humana, e ainda presente em muitos outros objetos do nosso cotidiano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição humana ao metal pode acarretar uma série de problemas graves, desde danos cerebrais até complicações respiratórias. 

Apesar de muitos países terem proibido a fabricação e venda de itens contendo o material, após a assinatura de um tratado chamado “Convenção de Minamata”, em 2013, ainda é comum encontrá-los em algumas residências, especialmente nas lâmpadas fluorescentes. Por isso, o descarte desses produtos ainda exige um olhar mais atento, e acima disso, com muito mais ações de conscientização das pessoas. 

O Brasil, por exemplo, é um dos países que não produz mais as lâmpadas fluorescentes. As que ainda estão à venda no mercado brasileiro são provenientes de importação, ou estoques antigos, por exemplo. Em 2022, o País teve 12 milhões de unidades importadas, já em 2023 esse volume baixou para a casa dos 7,5 milhões. Em 2024, até meados do mês de abril, estima-se que 633 mil lâmpadas deste tipo tenham sido trazidas de fora do País.

Os dados são da Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação - Reciclus, entidade gestora responsável pela logística reversa das lâmpadas que contêm mercúrio em sua composição. Segundo a iniciativa, inclusive, o número de lâmpadas fluorescentes importadas vem diminuindo, pois estão sendo substituídas pelo LED - opção que não possui mercúrio em sua composição.

Como funciona a logística reversa das lâmpadas queimadas:

Camilla Horizonte, gerente de Operações e Marketing na Reciclus, explica o processo de logística reversa das lâmpadas fluorescentes queimadas: "Qualquer estabelecimento que comercialize lâmpadas, caso esteja disponível pelo Acordo Setorial, pode ter um coletor da Reciclus gratuitamente, e, assim, receber todo o suporte necessário para transporte, instalação e retirada de lâmpadas (quando solicitada). No momento em que o coletor atinge a capacidade de 80%, o responsável solicita a coleta pelo site e então os parceiros homologados pela Reciclus realizam o transporte e a destinação ambientalmente correta nas recicladoras. Assim, fechamos o ciclo de vida da lâmpada e evitamos a extração de novos recursos naturais, promovendo a economia circular".


“Qualquer estabelecimento que comercialize lâmpadas, caso esteja disponível pelo Acordo Setorial, pode ter um coletor da Reciclus gratuitamente”, explica Camilla Horizonte

Os coletores, espalhados por todo o Brasil, podem ser acessados por qualquer pessoa, é só deixar sua lâmpada. Desde o início das atividades da Reciclus, em 2017, até 2024, mais de 39.9 milhões de lâmpadas fluorescentes foram destinadas de forma ambientalmente correta no Brasil por meio da entidade.

O embaixador do Movimento Circular Profº Dr. Flavio Ribeiro, destaca que para que tudo isso funcione, é preciso reforçar ações de engajamento para fazer o consumidor sair de sua casa e descartar as lâmpadas corretamente.

“Precisamos trabalhar valores e orientações práticas para que as pessoas saibam por que e como isso deve ser feito para uma maior divulgação, educação, conscientização e orientação dos consumidores sobre como lidar com os resíduos de lâmpada de forma adequada para não causar dano ambiental e poder devolvê-los para a destinação adequada - os coletores da Reciclus”, comenta Flávio Ribeiro.

Como uma associação nacional e o Brasil sendo um país continental, cada região tem desafios diferentes quando se trata da logística reversa de lâmpadas. Para a Coordenadora de Sustentabilidade e Logística na Reciclus, Natalia Fochi, é “imprescindível estabelecer um planejamento logístico rigoroso em colaboração estreita com os transportadores e recicladores devidamente homologados”.

Afinal, a operação do sistema da entidade acontece em todos os 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal. Isso abrange mais de 600 municípios, e essa logística, hoje, acontece, predominantemente, através do modal rodoviário para o transporte de longas distâncias, o que gera um elevado custo inerente ao fator “resíduos perigosos”.

Atenção à Regulamentação

A Reciclus foi criada com base na Lei nº 12.305/10, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e segue regras governamentais, envolvendo várias organizações do setor de lâmpadas. 

Para o Professor Flávio Ribeiro, a chave do sucesso do setor de lâmpadas está justamente em algo que é apenas um desejo para vários outros setores: o controle de importação do produto - no caso, das lâmpadas. “O Inmetro faz um controle a cada importação, a cada lote que chega importado de lâmpadas para verificar se aquela empresa que está importando cumpre com as exigências de logística reversa”, explica.


Atualmente, no Brasil, quando você compra lâmpadas fluorescentes, o custo relativo à logística reversa já está incluído no preço. Isso é chamado de Ecovalor, que é cerca de 40 centavos por lâmpada. Essa taxa aparece na nota fiscal quando você compra. Isso significa que apenas as empresas que assumiram o compromisso de reciclar essas lâmpadas desde o início podem vendê-las.

“Existe toda uma estrutura para garantir que cada lâmpada que entre no país recolha 40 centavos para a Reciclus - valor destinado para pagar o seu correto gerenciamento. Esse valor não custeia todo o gerenciamento, mas é importante para viabilizar o trabalho”, finaliza o professor Ribeiro. 

A importância da Educação para avançar na logística reversa

A Reciclus também investe na educação para fomentar práticas sustentáveis e promover a mudança de atitudes em prol do meio ambiente. Eles possuem o Programa Reciclus Educa, que oferece gratuitamente materiais educativos sobre Educação Ambiental para professores e alunos de escolas públicas e privadas.

Para Juliana Cândido, consultora de comunicação educacional, que atua para a Reciclus,, o Programa destaca a importância da construção de uma educação para o cuidado com o meio ambiente e, consequentemente, para com o descarte ambientalmente correto de resíduos. 

“O Programa Reciclus Educa tem crescido cada vez mais e isso reforça que a Educação Ambiental não é mudança para o futuro, mas para o presente", dia Juliana Cândido.

“Recebemos contatos de professores e professoras, e de prefeituras que utilizaram os materiais, e vemos uma grande adesão e engajamento. Nestes casos, também oferecemos capacitação in loco para a comunidade escolar, indo além das cartilhas e do material gravado. O Programa Reciclus Educa tem crescido cada vez mais e isso reforça que a Educação Ambiental não é mudança para o futuro, mas para o presente", finaliza.

Deste modo, a Reciclus se destaca por promover não apenas a conscientização sobre os perigos do descarte inadequado de lâmpadas fluorescentes, mas também por oferecer uma solução eficaz através da logística reversa. Seus esforços não se limitam apenas à gestão ambiental, mas também se estendem à educação, capacitando professores e alunos para adotarem práticas sustentáveis e circulares. Com um compromisso contínuo com a regulamentação, fiscalização e educação, a Reciclus demonstra que a transição para a Economia Circular não é apenas uma visão futura, mas uma realidade presente que pode ser alcançada por meio de ações concretas e colaboração entre diferentes setores da sociedade.

O que foi Minamata?

A Convenção de Minamata surgiu como resposta ao desastre ambiental ocorrido no Japão nas décadas de 1950 e 1960, quando a Chisso Corporation despejou rejeitos contendo mercúrio na Baía de Minamata. Isso resultou em sérios danos à saúde da população local, com sintomas graves e até mortes relacionadas ao envenenamento por mercúrio. O evento destacou a necessidade de regulamentações ambientais mais rigorosas e levou à criação da Convenção de Minamata em 2013, com o objetivo de controlar e reduzir o uso de mercúrio em nível global. O Brasil aderiu à convenção em 2017, juntamente com mais de 120 outros países, sendo promulgado em  2018.

Sobre o Movimento Circular

Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 4 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.

E você? Quer aprender mais sobre Economia Circular?

Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre Economia Circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.

Sobre a Reciclus

Desde 2017, a Reciclus – Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação – atua como entidade gestora da logística reversa de lâmpadas com mercúrio no Brasil. A organização operacionaliza a coleta segura, o transporte e a destinação adequada em parceria com recicladoras e transportadoras homologadas. Comprometida com a construção da Educação Ambiental, concentra esforços na produção e disseminação de conhecimento, especialmente para crianças e jovens. Desde o início de suas operações, foram coletadas mais de 39,9 milhões de lâmpadas fluorescentes nos mais de 3,8 mil pontos de coleta disponibilizados pela Reciclus.

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